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A casa que abraça




São 5h41. Com um dos olhos abertos, viro para a janela e puxo um pouco a cortina para saber se o dia está claro. Estou sem camisa, uma brisa fresca entra pela janela e descansa em mim. Puxo a coberta que está enrolada nas minhas pernas até o peito. Viro para a direita e me pergunto se ainda dá tempo de cochilar ou sonhar.


Meu cachorro, que faz as vezes de despertador, adentra o quarto. Suas patinhas encontram o meu braço, procurando o afeto matinal. Dou bom dia e afago suas orelhas. Sento-me na beirada da cama e estico meus braços e pernas. Pausa para ir ao banheiro, lavar o rosto e escovar os dentes. Depois saio, ando pelo corredor e o relógio de parede sussurra que são 6h12. Procuro meu celular e vejo que não tem nenhuma mensagem.


Antes de chegar na cozinha, paro em frente ao quadro de Jesus e a imagem de Nossa Senhora Aparecida e repito meu mantra matinal: "Bom dia! Gratidão!". O copo com água. A água mata a minha sede, me benze e me prepara para o dia nublado. "Tem bolo de chocolate", penso logo que o vejo em cima do micro-ondas, dentro da boleira de vidro que sempre sonhei ter em casa. Acendo a chama do fogão, a água esquenta, nasce o café.


À mesa, olho a casa. Falta terminar de pintar a parede. As luminárias parecem datadas e eu sinto saudade de algo que não sei. Mais um pedaço de bolo e tento me curar dessa ausência que permanece em interrogação. Lembro de Fernanda Young, um amor tardio de letras e inspirações. Ela certa vez disse que, de tanto querer coisas simples, parecia ser uma pessoa exigente. Eu não minto: com o básico me viro e sigo feliz.


Depois do café, levanto da mesa e coloco uma música instrumental para tocar. Medito por alguns minutos e então estou pronto para valer o dia. Ao final, sei, somam-se as lutas, as lágrimas e as vitórias. O saldo é positivo e eu venço no meu mundo, o de dentro, sempre pronto para avançar além da casa que me abraça.




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