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A Deus, Dona Maria

A manhã de sol e céu azul sussurrava que o dia seria feliz. No caminho até Sete Lagoas, me pegava em silêncio olhando as árvores pela janela do carro, enquanto elas reclamavam da velocidade que me impedia de contemplá-las.


No rádio, a música animada proibia: nada de abaixar o som. Atendi ao pedido da vida, que dizia que aquele momento era de recordação afetuosa. E assim foi, até a entrada da cidade, até o bairro, até a rua, até a casa, até o coração de Dona Maria.


Era 2005 quando ela me recebeu com seu sorriso e seu abraço suave e demorado. Foi só bater os olhos um no outro que a gente se gostou. Uma empatia eternizou aquela amizade que, no primeiro instante, já comungava carinho. Enquanto tomávamos café da manhã, conversamos sobre a vida, do que a gente gostava e não gostava. Ela falou dos filhos, da fazenda, viagens, do jardim de casa e dos seus cachorros – uma paixão que compartilhamos.


Era sempre assim: ela ficava feliz em me ver e eu ficava feliz em vê-la. Quantas vezes, não é Dona Maria, que você me recebeu em sua casa com o mesmo sorriso? Quantas vezes preparou o quarto em que eu iria dormir, com os lençóis esticados e a coberta com cheiro de ternura? Quantas vezes saímos para almoçar com a família, celebramos aniversários, viajamos para a fazenda, rimos e choramos juntos?


Ah, Dona Maria. Que saudade de ver você contar, aos risos, do caso da secretária que gritava enlouquecidamente na parte de trás da caminhonete quando a cestinha da bicicleta dela se desprendeu e saiu quicando na rua. Que saudade do manjar de côco que você fazia, porque sabia que eu gostava. Que saudade de vê-la cuidando das plantas e do jardim. De me contar que era preciso cortar as hastes florais das orquídeas, depois que murchavam, para que elas pudessem renascer na beleza de sua significância.


Que saudade, Dona Maria, de vê-la torcendo pelo Cruzeiro, seu time do coração. De quando passou o sábado em minha casa e eu quis que fosse um dia inesquecível para você. Sou tão agradecido por seu afeto, por ser mãe das minhas amizades mais valiosas, por ter me ligado no dia do meu aniversário, por perguntar sempre se eu estava bem e quando voltaria para visitá-la. Todas essas recordações com você estão muito bem guardadas. Simplesmente porque são boas.


Saudade, essa palavra tão pequena e impactante que dispara lembranças sem pedir licença, que não deixa a gente caminhar sozinho na estrada da vida, “que é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”, como certa vez escreveu Rubem Alves, aquele escritor que a gente gostava. Quando penso em você, Dona Maria, o sentimento é urgente e deixo as lágrimas correrem livres para coroar esse meu apreço. Vou te levar no coração, Dona Maria, que é onde as pessoas que eu admiro merecem ficar.

1 Comment


mellcintia14
Jan 23, 2020

Lucci querido, que coisa mais bonita... Lendo seu texto estive com vocês dois, agorinha. A Maria em pessoa eu encontrei apenas uma vez e foi muito bom, fui super bem acolhida! Já a Maria que vive no Gustavo, essa, eu vi em diversas ocasiões. E foi sempre muito bom! Espero vê-la de novo, em breve. 💜

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