As pessoas mudam. Aceite isso e siga sua vida
- Luciano Lopes
- 23 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de nov. de 2019

Já aconteceu de você encontrar um colega, amigo ou amiga de infância e, entusiasmado, sair correndo para o abraço chamando-o (a) pelo apelido nada engraçado, fazendo as mesmas brincadeiras da época em que andavam juntos e, pior, lembrando dos micos que pagaram? E, de repente, o que você recebe de volta é um sorriso amarelo e um cumprimento sem graça?
Queremos que as coisas sejam sempre do jeito que foram, que todo mundo ria das mesmas coisas, ouça as mesmas músicas, tenha as mesmas opiniões que a gente. Mas não dá para brincar com o tempo e com as transformações que ele faz em cada ser humano. As pessoas mudam e a maioria de nós precisa aceitar isso.
O colega mulherengo da escola hoje é casado e tem três filhos. Ele não quer falar das festas da faculdade (e com razão...). Mas de viagens, trabalho e paternidade - temas que são sua prioridade no momento. A professora que tinha vocação para stand up comedy e lotava o auditório da escola com suas palestras criativas agora é uma senhorinha que aproveita a aposentadoria para ler e viajar. Detalhe: sozinha. Depois de ensinar tanta gente, hoje prefere estar acompanhada da solidão positiva do aprendizado.
A melhor amiga da juventude foi se despedindo aos poucos através de e-mails que passaram a ser respondidos com um tempo cada vez maior. Motivo: encontrou o homem de sua vida e ele era tão ciumento que não havia mais espaço para amizades masculinas. "Troquei de número", "não vi sua ligação", "que dia você me mandou essa mensagem?" e dá-lhe desculpa...
Outro dia fui pesquisar referências sobre as razões que fazem uma pessoa mudar. Encontrei três. A primeira: a todo momento, aprende-se coisas novas. São as pessoas que tiveram outras experiências, abriram os olhos para um mundo que não era tão limitado assim, onde o conhecimento alimenta sem cessar. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, são seres que não perdem mais tempo em aprender coisas que não interessam, pois sacaram que elas os privam de conhecer o que realmente é interessante.
A segunda razão é que há pessoas que, depois de sofrerem bastante, desenvolvem um instinto de sobrevivência capaz de mudar seu comportamento frente a tudo. Criam, em si, uma força que lhes permite resolver com facilidade e firmeza questões que antes seriam traumáticas. Essas pessoas não têm mais energia para gastar com quem encontrou a porteira aberta e resolveu não atravessá-la, avançar na vida. Criaram imunidade contra as trivialidades.
E, por último, aquela que julgo ser a razão mais valiosa de todas: é cansativo demais ser a mesma pessoa sempre. Uma chatice. Todo o vento que move o ser humano para se tornar alguém melhor é o da mudança. É o vento do sonho, do querer mais, do arriscar, do renascer a cada aniversário. É gente que cansou de ouvir a mesma canção porque descobriu que música é coisa universal. Que não quer se sentir mais presa, que não vê limite na mudança.
As pessoas mudam simplesmente porque a prioridade delas também muda e, desde que o mundo é mundo, isso não é novidade. Aceitar que não somos mais o centro do universo da vida de alguém é um indicativo de que algo precisa mudar, primeiramente, dentro de nós. O filósofo alemão Immanuel Kant escreveu que "toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço". Mudar não é um bicho de sete cabeças e pode realmente fazer a diferença que faltava em nossas vidas.
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