Divagações sobre a dor
- Luciano Lopes
- 14 de nov. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jan. de 2022

Tudo havia acabado: a infância, o brincar. A juventude e as amizades da escola e do bar. O tempo da faculdade e os namoricos de portão. A hora de lidar com os obstáculos da vida chegara para mim. Sem poesia ou almofada para suavizar as quedas, fui jogado ali, na dureza da dor, na atrocidade do agora, pois só assim aprenderia alguma coisa.
Fui vivendo e custei a aceitar que a dor, a tristeza e a angústia me trouxeram as melhores lições. Não há receita certa para a vida. Mesmo fazendo o seu melhor, e até cedendo algumas vezes ao modelo de um sistema manipulador e nada simpático para seguir em paz, somos jogados ao tropeço. A gente nunca quer cair, mas é no chão que subir um degrau na existência vai trazer conforto espiritual mais à frente. É a pedagogia da dor. Sofrer é aprendizado. Levantar e seguir em frente é a lei na perseverança.
Todos os dias a gente some um pouquinho para garantir a eternidade da nossa presença. Sim, vamos esvair pelo ralo do planeta para que nosso esquecimento dê lugar ao descanso de nós mesmos. É preciso espaço para a nova gente parida, que chega querendo hastear sua bandeira no jardim das experiências, do labor. As dores que vivemos, os novos também viverão.
Ah, essa vida, é toda uma luta. É luta para não sermos massacrados pelo julgamento do outro, para sermos aceitos como somos, para sermos amados, para não morrermos. Queremos a infinitude na finitude - e sem dor. Mas essa luta vale a pena, ainda que sobreviver nos custe as escamas. A dor nos traz algo muito valioso, que é a consciência, e só ela é capaz de nos fazer enxergar o fundo do poço e nos fazer sair de lá.
"A dor não existe para você sofrer, a dor existe para deixá-lo mais consciente. E quando você se torna consciente, a infelicidade desaparece", certa vez afirmou o guru indiano Osho. E a prova disso é que, quando acharmos que tudo está acabado, é quando tudo se ilumina e visualizamos um novo fim para nossas lutas. É verdade que as dores do viver nunca saem de perto de nós. Mas a vitória e a felicidade, ainda que possam ser uma escolha, também não.
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