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Gil, o anjo da barraquinha de doces

Atualizado: 12 de jul. de 2022



Meu Deus, como acordei nostálgico hoje! Até tive a leve impressão de estar sentindo cheiro de cliclete Ploc, sucesso entre a criançada nos anos 1980. E isso me fez lembrar do Gil, que tinha uma barraquinha de doces na porta do colégio em que estudei aos oito anos. Sempre achei que aquele moço era meio que um anjo protetor. Sabia o nome de todos os alunos e se preocupava com qualquer um quando faltava as aulas.


Lembro nitidamente do Gil: cabelo castanho, magro, usava camisa branca ou azul de manga curta, com botões no meio. Chegava na porta do colégio antes das 7h da manhã e lá permanecia até depois de 17h30, quando terminava o horário de aula das últimas turmas. Às vezes, levava seu filho pequeno, que ficava quietinho sentado em uma cadeira brincando e apreciando o trabalho do pai.


A barraquinha de doces do Gil tinha de tudo: dadinhos de chocolate, guarda-chuvas do Zorro, doce de leite, pé-de-moleque, balas Ice Kiss e Lílith (de maçã verde), caramelos Embaré. A criançada gostava tanto dele que, logo que as aulas terminavam, ficava um monte de gente ao redor da barraca. Alguns compravam doces, mas outros iam apenas para conversar. Gil era tão gente boa que até os pais das crianças se tornaram amigos dele.


Só depois fui entender que Gil não era apenas um comerciante. Ele ofertava sorrisos, palavras de apoio. Apartava brigas, aconselhava para o bem. Gil é daquelas pessoas que são necessárias para o mundo ficar mais leve. A última vez que o vi foi há mais de 25 anos, quando precisei fazer uma consulta médica na clínica que ficava na rua do antigo colégio.


Hoje moro na capital e me pergunto por onde anda o Gil. Será que continua na porta do colégio com sua barraquinha de doces (neste tempo de pandemia, duvido...)? Ou é o filho que toma conta? Será que ainda está vivo? Mudou de cidade, de país? Prezado Gil, onde quer que esteja, tenha a certeza de que você faz parte da memória afetiva de todos que passaram pelo colégio, incluindo eu e meus irmãos. A gente te leva no coração!


Em tempo: o texto acima foi escrito em 13 de março de 2021 e ontem, 11 de julho de 2022, recebi a notícia de que Gil retornou à pátria espiritual. Meus sentimentos à família e, a Gil, todo nosso afeto e homenagem.

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