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Muito prazer, maturidade!

Atualizado: 12 de mar. de 2020



Com o tempo, aprendi a não gastar energia com coisas que não valem a pena. Se isso for o que chamam de maturidade, que seja bem-vinda.


Comigo, ela veio primeiro na forma de uma impaciência sutil. Fui me despedindo aos poucos, com charme e educação, de gente sanguessuga do espírito. Afinal, ninguém tem o direito de roubar as boas energias que temos (que fique claro: elas nos pertencem). Também desenvolvi um bloqueio maravilhoso contra pessoas que só reclamam das outras e não mudam os próprios hábitos (ou jeito de ser). Tem coisa mais graciosa do que quebrar a força de uma futrica cortando o papo e lançando, sem freios, o foco para a notícia nacional que está na boca do povo? Acredite: funciona!


Com a maturidade, você vai substituindo os alimentos desagradáveis pelos agradáveis. Até porque tem gente que destrói (conscientemente) tanto o corpo comendo porcarias na juventude (comigo foi assim) que depois só verdura e fruta mesmo para reparar o que foi desmatado.


Com a maturidade, a época de carnaval se torna um terror para quem tem mais de 40 anos. Em vez de quatro dias bebendo, ouvindo música alta, passando o dia inteiro suado, carregando os amigos bêbados e, pior, gastando horas para atravessar uma rua até chegar onde seu carro está estacionado, você prefere estar com seu amor no meio do... silêncio. Dá-lhe sítio, fazenda, chácara, mato, tudo o que não é sinônimo de bagunça. A maturidade, quando chega de vez, traz a quietude como sobrenome.


Com a maturidade, até o gosto pela música muda. Comecei pelo pop, acampei no rock, viajei em baladas românticas, tive delírios sertanejos e agora cismei de vez com Maria Bethânia. Tentei entender o motivo desse apego e cheguei à conclusão de que a voz da irmã de Caetano Veloso conversa escondida com algum canto da minha alma e, depois, se unem para me fazer sentir bem. É MPB mesmo: Música Para Benzer.


Com a maturidade, a vida te passa por um filtro e limpa tudo o que não agrega mais valor ao que você é. Ela arranca a ilusão e a ignorância que tapam os olhos e faz enxergar que, para tudo dar certo, basta descomplicar. Resolver as coisas de forma mais simples desamarra os laços que nos impedem de ser livres. Restabelece a nossa coragem e ancora as nossas seguranças em terra firme. E nos faz entender que a simplicidade, como diria o escritor libanês Kahlil Gilbran, é o último degrau da sabedoria.


Com o tempo, a gente vai aperfeiçoando a leitura de um melhor cotidiano e sai em busca dele. Novos lugares, novas emoções. A sede de descobrir, arriscar, tentar, vivenciar experiências desafiantes e prazerosas vai se intensificando, porque o tempo passa a ser curto para tudo. Maturidade é urgência. Maturidade vai além da velhice: é viver e fazer valer o que importa.

1 comentario


Cintia Melo
Cintia Melo
14 feb 2020

Que delícia de texto, Lucci!! Muito, mas muito bom!

A maturidade me fez selecionar até o que leio, você está certíssimo, o tempo urge! Valeu a pena o tempo que estive aqui, nessa sua colcha linda de letras e prosa da boa! 💜

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