Mães, essas filósofas instintivas
- Luciano Lopes
- 9 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de mai. de 2020
Para minha mãe e para todas as mães do mundo, sempre necessárias e insubstituíveis.

Você já ouviu alguma "profecia" materna? Pois é. Mães são filósofas instintivas e, acredite, 99% do que elas falam, acontecem. As previsões começam quando a gente ainda é criança: "Não coma muito, senão você irá passar mal". "Desça daí ou você vai se machucar!". "Leva um casaco que vai fazer frio". Sim, elas sempre avisam, a gente não atende e o fato se concretiza. "O que foi eu te falei? Cansei de avisar!" - profetizam, com a segurança e a experiência de quem literalmente parece saber tudo da vida.
E elas sabem mesmo. Têm um detector especial implantado por Deus para identificar qualquer perigo que se aproxima da cria. Mães sabem quando um namorado ou namorada "não presta". Avisam sobre companhias nada confiáveis. Orientam maridos sobre possíveis maus negócios. Farejam traidores, enganadores, falsos, pilantras, ignorantes. Elas sabem o que a gente pensa (#medo), não adianta esconder. Advinham nosso humor pelo olhar e a nossa saúde pelo tom de voz (minha mãe é assim, acredita?).
Mães são gente de poder. São altruístas por natureza. Mães geram vidas. E também cuidam de outras pessoas como se fossem os próprios rebentos - está aí quão valorosa e inexplicável é a maternidade. Ela vai além do seu significado, pois a lógica de uma mãe é o cuidado. E não dá para ir contra um ser humano que reina absoluto na biologia e no amor universal.
Agatha Christie, uma das mais importantes escritoras britânicas, definiu bem esse poder maternal, amoroso e ao mesmo tempo feroz: "O amor de uma mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho".
Mães têm um depósito escondido de afeto. Amam tanto que o sentimento vai ficando acumulado no corpo e elas precisam distribui-lo para não enlouquecer. Para isso, têm seus truques. Um dos mais conhecidos é separar maravilhas gastronômicas em potes e distribuir aos filhos: "É pra trazer os potinhos pra mim semana que vem, tá? Ah, e não esqueçam das tampas, senão vocês terão de ir pegar e voltar de novo!". E a gente obedece, primeiro porque ama. Segundo porque, lá no fundo, quer voltar sempre.
Mãe é o primeiro gibi que a gente lê na infância. O primeiro livro da nossa adolescência. A primeira lição. A primeira música. A primeira referência, o sorriso, a essência inédita de ser que a gente carrega até a velhice. O porto seguro, o farol... chame como você quiser. Por isso, dói tanto quando ela não está presente. Mães são tão poderosas que se transformam na totalidade das nossas lembranças.
E a gente fica aqui, de prontidão (e de quarentena), ensejando mais um abraço, lembrando delas com as mudas de plantinhas na mão "caçando um lugar para plantar". Comprando doces e brinquedos para encantar os netos. Colhendo salsinha e cebolinha na horta para enfeitiçar nosso olfato e nosso paladar com sua culinária. Deixando um restinho de calda de chocolate na panela pra gente rapar com a colher e, assim lambuzar a boca e o coração de amor. Mãe é assim. Acolhedora, urgente, hipnotizante.
Mães são filósofas instintivas. Li essa frase em um aplicativo e acredito nela. Mães têm a casa como reino e, feito sol, nos aquecem no aconchego de uma certeza indissolúvel: a de que felicidade e plenitude só são possíveis de se alcançar se elas estiverem de mãos dadas conosco, caminhando e nos orientando nessa jornada extraordinária que é viver.
Comments