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O jeito mineiro de falar com o coração

Atualizado: 23 de out. de 2019

Para Cris Mendonça, autora do livro "Mineiros não dizem 'eu te amo'


Foto: Felipe Augusto

Lembro de você, minha grande amiga, comendo pastel comigo na Marília de Dirceu enquanto seus olhos brilhavam ao me contar a novidade. Lembro de você falando sobre o frio na barriga que sentia por lançar seu primeiro livro de crônicas - "Mineiros não dizem 'eu te amo'" - porque não sabia qual seria a reação dos leitores. Lembro de você me contar sobre o texto que deu nome ao livro, sobre como escolheu a foto da capa, das mais de 100 crônicas que não foram incluídas e fazem fila para, algum dia, ganhar impressão.


Lembro de estar na fila de autógrafos. Lembro, antes de ter meu exemplar autografado, de pensar no quanto você deveria estar feliz por realizar algo que tanto queria. Lembro do reencontro, como seu leitor, e que teve direito a abraço, risadas, dedicatória e bombom de chocolate com côco, meu preferido.


Lembro de me despedir de você e partir rumo à minha casa para começar a ler o livro. E, cinco dias depois, de tê-lo terminado. Sua escrita, Cris, transporta a gente para o ambiente da crônica, que é a memória afetiva que ela revela e resgata. A gente se vê sentado, na cozinha da avó, sentindo nos dedos os detalhes do bordado da toalha sobre a mesa. Por um instante, sente até o gostinho do bolo de fubá na boca e o aroma do café coado na hora.


A gente se vê comendo pão de queijo, ouvindo aquela música preferida pra desbotar a saudade. A gente se lembra das dúvidas e da dor que o amor traz, mas também das certezas e das alegrias que ele proporciona. A gente se emociona com as conquistas, com o gesto simples de um garoto apaixonado que, no ônibus, escreve uma carta para a amada.


A gente sente vontade de ligar para o pai e para a mãe, que moram longe, e ouvir aquelas vozes que confortam o coração. A gente lembra do tio que escreve poesias. Do amigo que foi embora cedo deste mundo, mas que deixou uma malinha com boas lembranças, carinhos e risadas. A gente lida com as angústias com mais força, porque até a tristeza rende aprendizado.


Se você, Cris, tinha alguma dúvida de que seu livro tocaria o coração das pessoas, eu digo: ele foi além. Mostra que os mineiros não dizem "eu te amo" porque eles amam é com gestos. Contemplam as montanhas, tomam chá de prosa, comem goiabada, se divertem com a família, rezam com gratidão. Não rejeitam torresmo e compartilham uma cachacinha com limão sem cerimônia. Não faltam à Festa de Reis, contam e recontam seus causos com a mesma entrega. Mineiro não perde tempo, é livre porque ama a independência.


Mineiro, Cris, é um romântico com afeto na ponta da língua e o coração nas mãos, pronto para oferecê-lo a quem bate na sua porta. Seu livro, minha cara amiga, é a melhor e mais bela provocação poética que você fez à vida. E tem jeito mais mineiro de conquistar um leitor do que esse?

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