Praia de memórias
- Luciano Lopes
- 11 de set. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jan. de 2022

Lá em casa, as férias de julho nas décadas de 1980 e 1990 sempre foram em praia. Meu pai economizava o ano todo para que pudéssemos descansar em algum paraíso tropical da Bahia, nosso destino preferido. Íamos mais para Ilhéus e Alcobaça e foram anos seguidos nesse roteiro turístico. Não importávamos com isso, o objetivo era o mar.
Havia um ritual: acordávamos às 2h da manhã para colocar as malas no carro, tomar café e sair às 3h. Geralmente eram mais de 700 km de viagem e meu pai era o único que tinha carteira de motorista. Chegávamos no destino por volta de 14h, 15h da tarde. Deixávamos as malas na casa alugada e o rumo era a praia.
Assim que a calçada da rua acabava, carregávamos o chinelo na mão e corríamos pela areia. O mar abençoava nossa visita com pequenas ondas que se quebravam até a água tocar os dedos dos pés. Nessa hora, todo mundo sorria. Eu e meus irmãos nos olhávamos e nada parecia existir. Era a gente e o mar.
Engraçado que, dias antes de viajar, eu ficava tão emocionado que acordava de madrugada para preparar o roteiro de onde deveríamos ir. Pesquisava a cidade, os pontos turísticos, a hora que todos deveriam tomar café. Coisas de um adolescente ansioso que não queria perder um minuto da viagem. E é claro que o roteiro, com desenhos e informações detalhadas, se perdia na mala diante do espetáculo que era estar de frente pro mar.
Ah, e a padaria de Alcobaça? Vale registro: a memória afetiva não me deixa esquecer do cheiro dos pães de lá quando minha mãe abria a sacola de papel, que tinha o nome do lugar na frente e uma frase atrás: "Pão é vida. Comece o seu dia feliz!". E era isso que acontecia naquela semana onde a tristeza não tinha poder de reclamar espaço.
Praia, que saudade.
Já são seis anos sem a benção do mar, sem pular as ondas ou ficar sentado na areia, vendo o pôr-do-sol e tomando sorvete na casquinha. Sem ver gente vendendo camarão no palito, tatuagem de henna, queijo assado, côco gelado, cangas e sorrisos. Sem geleia de cacau, que se tornou uma obsessão gastronômica pra mim. Sem o acarajé, o vatapá e a música que embala todos esses momentos.
Um dia hei de voltar, praia. Agora sem acordar cedo para definir roteiros. Sem horários marcados de ida e volta. Quero apenas estar ali na frente do mar, pronto para tirar o chinelo, caminhar ao seu encontro e criar novas memórias para guardar no coração.
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