Sobre vencer o medo
- Luciano Lopes
- 28 de ago. de 2020
- 1 min de leitura

O moço olhou para trás e viu que aquilo poderia virar poeira. Queria aquele maldito ter perdurado na sua vida, mas o nocaute final teve a força do tocar da primeira trombeta.
Antes do golpe derradeiro, lembrou daquela sombra que sempre lhe acorrentou os desejos, sufocou seus sonhos. Andava a passos lentos, sentindo as correntes frias dedilhando os restos do que um dia foi a liberdade.
Mas o coração, que nunca abandona, decantou. Urgiu.
O moço levantou a mão, ergueu o punho e se entregou à última chance. Estava cansado, mas deu o primeiro passo de sua glória não mais tardia. Decidiu que derrota seria uma palavra sem merecimentos no roteiro e a coragem, sempre ela, tomou-o por inteiro. Arrastando devagar, o moço resgatou seus ventos. Soprou, arregaçou as mangas e as melancias. Pedras rolaram. Despoluiu-se da angústia, da culpa, do sofrimento que agora não era mais seu.
Outro passo, em silêncio, e fitou o horizonte. A conquista, enfim. Passou por nuvens cinzentas, deixou-se arranhar pelos espinhos no caminho e quando sentiu sede, chorou.
Uma lágrima escorreu no rosto e o moço se lembrou das águas que habitam em si. O nocaute veio trazido pela força das próprias marés. Sorriu e saltou. Os abismos de suas dores ficaram para trás. E, no topo, sorriu ao ver que, do medo, não sobrou qualquer lembrança.
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