Tempo Tempo Tempo
- Luciano Lopes
- 12 de jul. de 2022
- 2 min de leitura

Seis meses se passaram desde o último texto que escrevi. E há um motivo para isso: tinha perdido a vontade de escrever. Aos poucos, fui deixando de observar o mundo com os olhos do registro de memórias, do sentimento, do valor - isso, para mim, é essencial para a escrita. A inspiração se tornou mar de uma onda só e essa onda se quebrou, deixando a água parada.
Nesse tempo, continuei trabalhando com Comunicação, me interessei mais por plantas e culinária na mesma medida que me distanciei de gente tóxica e me aproximei de quem realmente valia a pena estar junto. Vejo esses seis meses como um processo de redescobrimento, renovação: eu precisava fazer novas escolhas, traçar novos caminhos, objetivos e ressignificar as coisas.
O Universo tentou me ajudar com boas energias. Recebi boas notícias, novas propostas de trabalho, família e amor por perto. Escolhi o conforto dessa zona chata que é não se mover. E com isso a escrita foi junto - parada estava, parada continuou.
Há quem diga que escrever é uma conquista: deve-se praticar todo dia para exercitar o trato com as palavras e aperfeiçoar a forma de se colocar sentimento no papel. Lindo isso, mas a realidade é que, sem inspiração, a escrita é como água no deserto: não vinga, não deixa sinal, nasce evaporada.
Seria a hora de encerrar essa aventura que é escrever?
Nesses seis meses nublados e cinzentos, não consegui responder a essa pergunta. E o fato de escrever esse texto que você lê agora talvez seja uma resposta. Chegar ao vácuo da inspiração criou uma força interna para me puxar aos poucos até a margem da lucidez das ideias. Volto ileso fisicamente, mas sigo impermanente no ofício da escrita, ciente da finitude do estar, das securas e umidades da minha alma, até que a semente da inspiração vire árvore novamente.
Tenho a oportunidade agora de plantar novos buritis nos pensamentos, criar novas várzeas de ideias, mas prefiro ir com calma. Como escreveu Caetano Veloso na música "Tempo Tempo Tempo", quero ter o prazer legítimo e o movimento preciso quando o tempo for propício.
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